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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Discurso de Paraninfo

Discurso de Paraninfo Turma de Musica Sacra Solenidade de formatura STBNe 2008.2

Reverendo Reitor do Seminário Teológico Batista do Nordesde Dr. Ágabo Borges de Sousa, Ilustríssimo Patrono Ilustríssimos Membros da Mesa Solene, Caros Professores, Senhores Pais e Familiares, Autoridades Presentes, Formandos do Curso de Bacharel em Música Sacra, Caros Convidados, Amigos Presentes,

Boa noite,

Hoje é uma noite única. Uma noite de festa. Uma noite que será sempre lembrada por vocês. Um marco, um divisor de águas. O antes e o depois da formatura. Início de uma nova caminhada. Quando fui convidado para ser o paraninfo da turma fiquei com um misto de emoções. Primeiro, a alegria de fazê-lo; depois, o desespero em ter de fazê-lo; pois é muito mais cômodo, para mim, cantar que falar. Até pensei na possibilidade de substituir este discurso por uma bela música. Com certeza todos nós sofreríamos bem mesmo. Lamento ter que obrigar todos a me ouvir, já que estou mais habituado e habilitado a cantar que falar. E em meio isso tudo fiquei ponderando o que falar, que tema abordar e resolvi, então, falar o que vinha à minha alma.

Vocês são muito caros pra mim. Invejo profundamente a turma de vocês. Falo isso sem vergonha e sem pecado. É extremamente raro ter em um único grupo, pessoas tão amigas e competentes que não competem entre si. A competição dos nossos dias não atingiu vocês. Admiro a união que vocês têm, principalmente porque não tive oportunidade de ter uma convivência saudável e não competitiva com amigos colegas em nenhum dos meus cursos. Sempre minhas experiências de companheirismo foram mais individualizadas, com poucas e seletas pessoas com as quais havia identificações. Por isso tudo a minha frustração de não ter tido um grupo assim se realiza ao ver vocês aqui hoje nesta formatura; um grupo invejável. E a partir de hoje vocês entram para o meu grupo, de Bacharéis em Música Sacra. Vamos então falar um pouco sobre isso nesta noite, sobre o significado do que estamos vivendo hoje. Viemos de uma tradição histórica, que biblicamente podemos remontar do culto no templo de Salomão, onde, por causa do aumento das atividades, sentiu-se a necessidade de pessoas especificas e especializadas na área da música, para cantar e trabalhar no templo. Estas pessoas eram preparadas por longos períodos; cerca de 20 a 25 anos. Desde então o serviço da música no templo e nos cultos tem sido ocupação de uns poucos elementos, que sentindo a necessidade do campo, dispõe-se a estudar e se preparar para melhor servir nesta obra. Em 1 Crônicas 15.22 temos:  “Quenanias, chefe dos levitas músicos, tinha o encargo de dirigir o canto, porque era perito nisso”. O que nos chama a atenção é o final do versículo, que diz que “Era perito nisso”, noutra versão “era entendido nisso”. Sempre foi esta a preocupação. Ter pessoas habilitadas, peritas, entendidas no assunto, para a direção e condução da música no culto a Deus. Grande responsabilidade. Vocês fazem parte desta história. Poderíamos seguir com a história da igreja e da musica ocidental, coletando exemplos desta realidade, mas vamos prosseguir em outra direção, falando sobre esta arte.

A música é algo divino. É a linguagem universal; tem código e sons compreensíveis em qualquer parte do mundo. Mesmo que não seja aceita em outra cultura, não quer dizer que não seja entendida. Não se limita a definição de combinação de sons “agradáveis”, na maioria das vezes. É algo transcendente. Através da música podemos atingir e enxergar dentro de nós mesmos, sentimentos, pensamentos e comportamentos, antes inacessíveis ou inaceitáveis conscientemente. A música na experiência comunitária do culto é algo que hoje se torna essencial; dificilmente concebemos uma reunião de culto sem música, mesmo no culto doméstico mais simples. O poder de penetração e envolvimento emocional da música unifica a comunidade cúltica em um único elemento. Por exemplo: quando passamos pela experiência do canto em conjunto, ou mesmo quando participamos assistindo, contemplando, observamos algo que pode ser considerado como um arquétipo do ideal cristão de comunidade; a combinação das vozes, dos timbres, das melodias, das harmonias, todas amalgamadas pelo ritmo em cadências perfeitamente construídas; projetamos nisto a diversidade de elementos em uma unidade bela e perfeita. Esta unidade musical pode ser comparada ao protótipo do ideal comunitário cristão, “que todos sejam um”, “unidade na diversidade”, que só será perfeito e completo no céu. Assim, antecipamos parcialmente a comunhão divina aqui na terra em experiências imperfeitas e incompletas através da música. Nossa diferença nisso tudo é que conhecemos, e admiramos, esta arte pelo lado de dentro dela, enquanto os demais observam e desfrutam pelo lado de fora. Apesar disso tudo, o domínio desta arte não nos é completa, e creio que nunca será. Podemos no máximo utilizar e manipular parcialmente os seus elementos, mas não conseguiremos nunca controlar todos eles e menos ainda como eles afetarão os ouvintes. É algo que ultrapassa a compreensão humana. Para quem não conhece o lado de quem faz música, acredita que o fazer musical é algo sempre extremamente prazeroso; o que a maioria desconhece é que isso tudo vem a um preço muito alto.

Temos que dedicar grande quantidade de tempo e suor para conseguir dominar um pequeno terreno dentro do campo da música, e se ficamos um dia fora do campo de batalha somos punidos com severidade; temos que nos empenhar muito mais ainda, pra re-conquistar o terreno perdido. Por isso podemos dizer que a música é semelhante uma bela dama muito egoísta e ciumenta; quer todo o nosso tempo exclusivamente para ela. Apesar de tanto empenho e dedicação, nós temos, por fim, algo que nos acalenta a alma e nos renova, e por que não dizer, nos alimenta. Estes sentimentos são tão intensos que às vezes sentimos que somos devedores desta graça da música, e que não é proporcional à quantidade de tempo que dedicamos a ela.

Nesta nova fase de vida, pós formatura, surgirão novos desafios e novas conquistas que em pouco parecerão com aqueles que vocês enfrentaram durante estes anos de curso. Frustrações surgirão e aprender a lidar com isso no dia a dia é muito importante. Nem sempre faremos aquilo que desejamos, ou queremos. Algumas vezes conseguiremos atingir as metas por nós estabelecidas, ou impostas por outros, outras vezes não. Como músicos, estamos constantemente em busca da perfeição; da execução perfeita, de tocar, ou cantar, todas as notas com exatidão, no tempo certo, com a intensidade correta, com tudo no lugar, e quando não atingimos tal objetivo, sentimo-nos frustrados. Esta perfeição ideal não existe no mundo real. Só no mundo da música ou no nosso próprio imaginário musical. Como as exigências do mundo contemporâneo exigem-nos este comportamento, ficamos cada vez mais e mais ansiosos em busca deste objetivo. Devemos aprender a mudar o foco de nossa perfeição. O conceito que temos de perfeição tem sido sempre de algo sem defeito. Este ser sem defeito, perfeito, que não erra nunca, existe! Encontramo-lo na Bíblia. Nossa visão de perfeição deve estar centrada em fazer sempre o melhor POSSÍVEL. A coisa perfeita é aquela em que nós temos certeza de que fizemos o melhor possível para aquele que merece sempre o nosso melhor. Com isso nossa batalha será sempre de superarmos nossas próprias limitações em busca daquilo que é perfeitamente possível, e nossas frustrações serão sobre coisas reais e não de imaginárias.

Sei que em poucas horas vocês terão apenas algumas lembranças desta noite e que grande parte dela se perderá na memória ao longo do tempo. O que ficará será o sentimento disso tudo. O antes e o depois. E isto basta.

Finalizo citando C. S. Lewis: "Mera mudança não é crescimento. Crescimento é a síntese de mudança e continuidade, e onde não há continuidade não há crescimento." Continuem Crescendo, Mudando, Melhorando, até atingir a estatura de Varão Perfeito.

Deus Abençoe A Todos,

Muito Obrigado.

Guilherme Osiris Hübner Feira de Santana, 6 de dezembro de 2008

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei sua fala, simples de coração aberto, um toque singelo a alma nesse momento tão especial.